Como
fazer para que os alunos sejam bons leitores?
Cinthia Kuperman
Como se assinalou em outros
trabalhos neste livro, não há uma única modalidade de leitura, mas múltiplas,
de acordo com a finalidade que orienta essa atividade. Ler ou não com fluência
também depende da intenção com que se aborda o texto. Na classe, com certos
materiais, é imprescindível compartilhar os propósitos da leitura para que os
alunos consigam dar sentido próprio a essa tarefa. Que saibam para que leem, o
que se espera, que estratégias podem funcionar como referência para outras
ocasiões, é essencial para ajudar-se a ler melhor. Também é útil saber ler em
voz alta para um auditório, seja um conto, uma poesia, ou um fragmento de
informação localizada e que essa leitura permita comunicar um significado.
Preparar-se para ler diante de um auditório requer ensaiar previamente a
leitura e é provável que isso ajude a ler de forma mais fluída, ao menos, o
texto em questão.
Apresentamos aqui alguns
exemplos enquadrados em projetos ou atividades habituais, com propósitos
claros, definidos e compartilhados com a classe. Neles os alunos ensaiam para
ler frente a um auditório.
Ler
um conto favorito para outros ou o espaço
do contista
Nesta atividade habitual, os
alunos têm a responsabilidade de escolher um conto e lê-lo aos seus
companheiros. A escolha é compartilhada com o professor, que se assegura de que
os contos selecionados tenham qualidade literária. Para organizar a tarefa, se
elabora uma lista com os nomes dos alunos e das leituras escolhidas, que serão
lidas uma vez por semana. No dia
estabelecido, o contista será encarregado de ler seu conto e decidir como e
quando mostrar as imagens, oferecer dados do autor e do paratexto (como são a
capa e a contracapa), e organizar as rodas de conversa, a vez em que cada um
fala, no intercâmbio posterior.
A classe e o professor ouvem
e ao final se organizam perguntas e comentários sobre o que suscitou o texto ou
interrogações acerca de como procedeu o leitor para preparar-se. Esta situação
é interessante, uma vez que impulsiona os alunos a praticarem a leitura de um texto conhecido para expô-lo diante de
um auditório.
Produção
de fitas cassetes ou CDs de poesias para acompanhar uma coletânea impressa
Este projeto propõe coletar
poesias variadas e numerosas, que depois são gravadas e reproduzidas para um
amplo auditório constituído por familiares, outros alunos, professores, etc.,
ou para organizar uma biblioteca falante.
O propósito didático é pôr à
disposição dos alunos diversas e variadas poesias de autores consagrados e
promover seu conhecimento do gênero.
A seguir alguns dos momentos
da proposta:
·
O professor lê poesias aos alunos de maneira
sistemática.
·
Os alunos ouvem outras pessoas – da escola e
outras, por meio de gravações – ler poesias.
·
Seguem o texto de alguma poesia, enquanto
ouvem uma gravação da leitura que o próprio autor fez do poema.
·
Leem sobre a vida e a obra dos autores.
·
Conversam sobre como os autores abordam algum
tema, paisagem ou sentimento particular.
·
Descobrem a beleza de seus peculiares modos
de apresentar a realidade.
A
turma se enriquece graças às leituras e aos intercâmbios sobre uma variedade de
poesias. Os alunos discutem acerca de suas percepções quando outros leem: a
entonação de uma frase determinada, o ritmo da linguagem poética, etc.
Analisam-se os modos de ler contos ou notícias e a forma como se leem as
poesias. Em todos os momentos há poesias à disposição dos alunos.
Antes
de gravar suas poesias, os pequenos terão lido e ouvido ler e têm à sua
disposição diversos poemas; o professor os incentiva a reler e a questionar-se
sobre as suas preferências. Isto permitirá combinar critérios de seleção para a
escolha dos textos que farão parte da coletânea. Uma vez selecionada a poesia,
começarão os ensaios.
Cada
aluno ensaia para ler da melhor maneira possível. Como se requer tempo, os
alunos praticam tanto na escola como em suas casas; ouvem, analisam como leem,
redefinem critérios, emitem opiniões e voltam a ensaiar até concordarem que se
entendem o que leem; então estão preparados para gravar os poemas.
Enquanto
desenvolvem estes procedimentos, o professor se aproxima dos grupos e observa
suas tarefas, compartilha com todos os processos que deram resultado ou então
as dificuldades suscitadas, incentivando a reflexão sobre as maneiras de ler as
poesias. Às vezes lê a meia voz algum verso para ajudar os alunos a ler e
mostra com sua leitura como poderia ser o ritmo desse verso; inicia com os
alunos um diálogo sobre o tema do poema e solicita que explicitem como
conseguiram melhorar a leitura. Em seguida, escreve em um cartaz à vista de
todos, as sugestões decididas para serem consultadas em outra oportunidade.
O
seguinte registro é um exemplo de uma classe de 2º ano que está preparando um
cd.
(A
professora observa Joaquim muito concentrado
com sua poesia, se aproxima e lhe pergunta):
Professora: Como
você está lendo?
Joaquim: procuro
lembrar de memória, porque isso me ajuda a ler melhor; leio muitas vezes a mesma
linha e, quando estou seguro, passo a
outra.
Outra aluna: Na
minha casa gravei enquanto lia, escutei para saber se podia melhorar.
Joaquim encontrou uma
estratégia que o ajuda a sentir-se seguro. Ler o mesmo verso uma e outra vez
lhe permite apropriar-se do ritmo das palavras e adquirir mais segurança. Os
alunos buscam maneiras de obter parâmetros próprios para regular sua leitura,
têm claro o propósito: ler o melhor possível para gravar o cd.
Após gravar os poemas, a
professora lhes propõe que elaborem um cartaz que explique como fizeram, para compartilhar
com outros alunos suas estratégias, e usá-las eles mesmos em outras ocasiões. A
professora anota as seguintes conclusões:
·
“Ler a outros enquanto se pratica a leitura
melhor,
porque os que ouvem dizem se
se entende ou não
e o que há para melhorar.”
·
“Pode-se ler muitas vezes o mesmo verso,
assim se lembra bem e depois se lê melhor.”
·
“Se você se perde, pode marcar com o dedo ou
uma régua onde está lendo”.
·
“Pode-se ler por partes. Quando estiver
seguro com cada parte, lê o texto todo”.
·
“Temos de praticar muito”.
·
“Escolher uma poesia e lê-la muitas vezes”
Ler contos de autor para alunos menores
Esta proposta se inclui num
projeto mais amplo, que é seguir a obra de um autor. À medida que os alunos
leem e comentam diversos títulos de um autor, e também os dados de sua vida e
sua obra, sabem que deverão escolher os mais adequados para ler aos menores.
Selecionar os textos que lerão é uma tarefa complexa que convida a reler;
talvez não seja necessário ler o conto completo, mas folhear o livro para
recordar essa história e, assim, poder decidir se é adequada ou não para
compartilhar. Enquanto se discutem os critérios de seleção, os alunos se
organizam para ouvir a leitura e participam como observadores.
No 4º ano, o professor
registra o que fazem os alunos enquanto leem ou veem os outros ler.
Penduram
dentro do quadro o cartaz que diz: “Estamos lendo”.
·
Fazem
uma roda sentados no chão.
·
O
leitor pergunta aos alunos se conhecem o livro enquanto o mostra.
·
Se
leem um romance recorda onde haviam parado a leitura no último encontro e
mostra onde deixou o marcador.
·
Alguns
leitores mostram as ilustrações enquanto leem o conto.
·
Outros
leitores fazem gestos enquanto leem.
·
O
leitor pede que ouçam e que não se preocupem se há alguma palavra cujo
significado não compreendem.
·
Diz
quem é o autor.
·
Deixa
o livro lido na biblioteca de sala para o caso de alguém desejar consultá-lo.
Tomar consciência sobre como
se lê para outros ajudará os alunos a ter presente a hora de realizar leituras
por si mesmos. Eles repartem os contos e compartilham a leitura, durante várias
sessões, para ensaiar. Um aluno propõe “ler pausado, nem muito rápido nem muito
lento”. Os alunos escolhidos leem aos colegas e, ao regressarem à sala de aula,
compartilham suas experiências e ajustam aquelas estratégias que possam ser
usadas junto aos próximos leitores. ‘Não parar de ler, somente ao mostrar as
ilustrações; pode-se deixar que os alunos falem; mostrar a capa e a contracapa
do livro; ler dados da capa e da contracapa antes de começar o conto” são
alguns dos comentários que fazem os alunos depois que leem para as crianças de
cinco anos.
Teatro
lido
Durante a leitura de obras
teatrais, ou como etapa final de um projeto específico como o de adaptar contos
a obras teatrais, os alunos podem se preparar para fazer teatro lido. Esta modalidade é diferente das anteriores, já que nem
tudo o que está escrito se lê em voz alta. Uma questão complexa e, por sua vez,
interessante é perguntar-se o que se deve ler em voz alta e o que faz parte da
linguagem teatral, porém não se verbaliza.
Oferecer oportunidades para
que leiam e reflitam sobre esta prática ajudará os alunos a agilizar sua
leitura. Se os alunos têm a oportunidade de ter acesso a um trabalho sustentado,
de leituras e releituras; se podem resolver desafios e se os orientamos para
que construam os conhecimentos necessários – por exemplo, a estabelecer relações
entre situações e saberes para consolidar o aprendido e reutilizá-lo -, os
ajudamos a participar ativamente da cultura escrita.
Ler em voz alta deve ser uma
oportunidade a mais para ler, não uma situação escolar privilegiada ou de
avaliação. Para que isto aconteça, as
situações de leitura em voz alta devem ser práticas carregadas de sentido, com
propósitos claros e destinatários reais. A escola tem a função específica de
conseguir que os alunos tenham consciência do que sabem. Neste sentido, a
leitura, como outros conhecimentos, não é espontânea, mas ao contrário, deve
facilitar o encontro dos alunos com a língua escrita e promover o processo de
sua aprendizagem.
Como
atuar com os alunos que têm medo de errar?
Não há uma fórmula precisa
para saber o que fazer com os alunos que se mostram temerosos diante da
leitura. No entanto, há algumas intervenções didáticas que podem ajudá-los a
ter confiança em si mesmos e a considerar o erro como parte do processo de
aprendizagem.
Saber que o conhecimento é
provisório e que tudo o que se aprende é objeto de sucessivas reorganizações
permite substituir esse temor e ganhar confiança na sua capacidade. O professor
ajuda os alunos a se darem conta do que podem e do que sabem. Por isso é
importante planejar situações didáticas que organizem o ensino na classe, de
modo que os alunos reflitam a partir dos conhecimentos – em alguns casos
errôneos ou provisórios – que possuem e possam fazer o que lhes propomos: ler
um novo texto, um texto mais extenso, buscar informação precisa, etc. A única
maneira de promover a aprendizagem é que os alunos resolvam situações
problemáticas e adquiram estratégias que lhes permitam resolvê-las cada vez com
maiores recursos.
Será indispensável que
possam ler com frequência, já que, se não o fazem, não poderão ganhar confiança
como leitores. Como sustenta Delia Lerner, é fundamental
Capacitar
os alunos para decidir quando sua interpretação é correta e quando não é, para
estarem atentos à coerência do sentido que vão construindo e detectar
inconsistências, para interrogar o texto buscando pistas que endossem tal ou
qual interpretação. [...] Trata-se, então, de oferecer aos alunos oportunidades
de construir estratégias de autocontrole da leitura.
As propostas de leitura
apresentarão aos alunos o desafio de validarem por si mesmos suas
interpretações. Para que isso ocorra, o professor adia a indicação da resposta
correta, permite a reflexão e a discussão coletiva, e estimula o surgimento de
várias interpretações de um mesmo texto.
Outra forma de gerar
confiança é atendendo às necessidades particulares dos alunos. O professor
poderá ajudar aqueles alunos que necessitam de um comentário ou uma observação
personalizada sobre o que fazem quando leem; por exemplo, sugerindo-lhes que
podem recorrer a uma régua para seguir a leitura e que não convém deterem-se
nas palavras que não compreendem, mas tratar de inferir a que se referem pelo
contexto. Poderá aproximar-se de um pequeno grupo que tenta avançar na leitura
de um texto – por exemplo, em uma roda de leitura – para discutir com eles o
que não entendem ou ler para eles em voz alta um fragmento que lhes pareça difícil.
Também pode selecionar alguns aspectos do que tenha ocorrido em um grupo para
compartilhar coletivamente ou oferecer a informação necessária para que todos
avancem na compreensão do texto.
A confiança se adquire com o
tempo e com a possibilidade de lembrar o que foi objeto de prática ou reflexão.
Convém que os alunos compartilhem os conhecimentos alcançados – por exemplo:
“Estamos estudando sobre a rã, este é um texto extraído de outra enciclopédia.
Como podemos saber onde olhar para saber qual é a fonte?” – e pensar se uma
estratégia de leitura que serviu em outra situação poderia ajudar nesse caso.
Em um ambiente onde “vale
errar” e é possível apagar, riscar, ler, reler, praticar, contar com mais de
uma resposta correta, validar e
justificar as interpretações, é possível que os alunos desenvolvam confiança em
seu potencial como leitores.
Como
formar bons leitores?
Ajudar os alunos a ser bons
leitores é uma tarefa que abrange toda a escolaridade. Ler é uma atividade
complexa que requer uma prática sistemática. Os leitores se formam mediante
múltiplas leituras, tanto as realizadas por meio da voz de outros –
professores, pais, um aluno mais experiente – como por si mesmos.
A escola como instituição
deve oferecer oportunidades de fazer uso da língua escrita. Para isso, deve
fazer o esforço e ter o compromisso de pôr livros à disposição dos alunos e
gerar intercâmbios a partir desses contatos. Será necessário, então, prever
situações de leitura que permitam a todos
ter acesso direto às leituras: para alguns, será talvez um primeiro contato
direto com os livros e, para outros, uma oportunidade de ampliar seu marco
referencial de textos. Isto implica enfrentar o desafio de construir uma nova
versão da leitura, que se ajuste muito mais à prática social e permita que os
alunos se apropriem efetivamente dela.
Várias questões podem ser
levadas em conta para ajudar os alunos a ser bons leitores. Em continuação
analisam-se algumas propostas didáticas que, na prática, se relacionam, pois
uma necessita da outra.
Ler
diversos textos
Será necessário propor
diversos tipos de textos: um repertório amplo, de circulação social real
(receitas, cartas, contos, notícias, obras de teatro, páginas de enciclopédia,
etc.) Sem textos verdadeiros na sala de aula, é impossível ajudar os alunos a
melhorar seu processo leitor.
Na escola há uma tradição
segundo a qual se fracionam e graduam os textos ao ponto de deixar de serem
textos.A prática escolar se distancia e fica dissociada de outras práticas sociais; os
textos que se oferecem se transformam em absurdos, carentes de sentido e de
verdadeiros propósitos comunicativos. Ter o texto completo à disposição oferece
mais pistas ao leitor que ter somente
uma parte descontextualizada. Quando se lê unicamente um fragmento ou uma
notícia isolada, se xeroca uma página de um livro de estudo, etc., é
fundamental mencionar a fonte, isto é, indicar de onde foi extraído o texto,
mostrar o livro completo, o jornal ou o suporte de onde fazia parte. Isto
permitirá contextualizar sua procedência.
Ler
segundo um propósito
Quando os alunos e os
adultos leem com um propósito claro, estão em condições de selecionar o texto e
ajustar as estratégias mais adequadas para compreendê-lo.Esse propósito pode ser desfrutar, obter informação – geral ou precisa -,
seguir instruções, comunicar algo a outros, etc. Não se lê porque sim; sempre há uma finalidade. É necessário prever diversos
propósitos de leitura tanto durante cada ano escolar como durante toda s
escolaridade.
O
professor lê aos alunos
Ao ler um texto aos alunos,
o professor modeliza comportamentos de leitor; comenta qual editora publicou o
material; quem é o ilustrador; lê os dados da contracapa; relaciona o texto com
outro da mesma coleção, com outros títulos do autor, ou com textos similares;
lê o índice; mostra o marcador de página que usará e antecipa quanto vai durar
a leitura; faz marcas com lápis no texto e as compartilha com os alunos. O
professor comunica qual é o propósito: lê para que os alunos conheçam uma história;
lê um bilhete que colarão no caderno de comunicados; lê para buscar informação
específica e solicita que o avisem quando perceberem que dada informação é
relevante; relê; registra uma página para depois encontrá-la facilmente e
escreve um pequeno texto que funcione como apoio
à memória. Gera um ambiente que propicie e estimule a leitura. Enfim, um
professor que atua deste modo, ensina a ler.
Os
alunos leem por si mesmos
O professor oferece livros
aos alunos e os prepara como leitores na aula. Dá-lhes tempo para que olhem os
textos, para que selecionem entre vários qual servirá para buscar informação
acerca do que estão estudando. Põe à sua disposição marcadores de páginas para
que marquem aquilo que depois desejarão voltar a ler; convida a ler um título;
oferece várias biografias para que os alunos encontrem as que são de autores
que estão lendo e para que localizem novas informações relacionadas com o que
selecionaram até o momento. Pergunta como fizeram para encontrá-las, em que se
detiveram, o que levaram em conta. O professor não impõe a sua leitura, trata
de compreender o que os alunos leram, qual o sentido que construíram. Deste
modo, também ensina a ler.
Em cada aula há alunos com
diferentes experiências em situações de leitura. Isto, mais que um problema, é
um interessante ponto de partida para começar a trabalhar. Diversas
intervenções ajudarão para que todos leiam um texto. Estas variarão de acordo
com o texto, o propósito, a informação que oferece o professor e os
conhecimentos que tenham os alunos. Por exemplo:
·
Dizer que o texto informa sobre a rã e
solicitar aos alunos que localizem os dados novos que oferece sobre o tema;
·
Solicitar que localizem em um novo texto
informações que já conhecem sobre o tema que estão estudando.
Ler bem não é,
necessariamente, fazê-lo bem em voz alta. Tradicionalmente, na escola, ler bem era sinônimo de dizer bem, mas agora se sabe que entender
não é o mesmo que oralizar um texto escrito.
Em síntese, aprender a ler
não é uma tarefa que se consegue de um dia para o outro. Para transformar os
alunos em bons leitores, temos que oferecer-lhes um amplo repertório de
leituras, para que possam estabelecer relações e antecipar por meio dos dados
do paratexto qual informação se pode encontrar no livro; solicitar que busquem
informação e que saibam onde encontrá-la, ou escolher, entre vários textos
disponíveis, algum; ler e reler para esclarecer dificuldades, marcar o texto,
avançar e voltar sobre o que foi lido para atentar para as ideias. Enfim,
formar alunos como leitores plenos é ajudá-los a ler melhor.
É frequente que, depois de
ler um conto, se proponham aos alunos responder a um questionário ou desenhar o
personagem ou a parte do conto que mais se gostou; ou, depois de ler uma notícia,
escrever outra, ou ler uma receita antes de inventar uma nova.
Deste modo, a atividade de
leitura continua de alguma forma em uma situação de escrita. A necessidade de
avaliar desempenha um papel importante nestas decisões didáticas, como se o
professor solicitasse as produções escritas para saber se o que foi lido foi
compreendido.
Contudo, estas atividades
não ajudam a formar verdadeiros leitores autônomos e críticos. Tampouco a
formar escritores. Nem todas as situações de leitura devem derivar em propostas
de escrita. Tal como acontece na prática social, às vezes, se lê e somente se
marca um fragmento para recuperar essa informação depois; outras vezes se tomam
notas; porém, com frequência, somente se
lê pelo prazer e a satisfação de ler.
É necessário que, nas aulas,
e durante toda a escolaridade, existam situações cuja intenção seja ler por ler junto a outras que permitam
ler para escrever.
São várias as situações
habituais ou independentes de leitura que se podem planejar com a intenção de ler por ler. A proposta é organizar uma
sessão quinzenal ou semanal para que o professor leia para os alunos e estes
para a classe, ou momentos nos quais cada um leia de forma independente.
Em todos os casos, o
professor explicita o propósito da leitura. Estas situações implicam na leitura
e no intercâmbio entre os leitores. O professor é o mediador entre o texto e os
alunos: apresenta os livros selecionados previamente; lê em voz alta; relê uma
passagem interessante, engraçada ou que mostra semelhanças com outras obras;
assinala as marcas de estilo que caracterizam a forma de escrever do autor
(reiterações, escolhas de palavras, tipos de frases, etc.). Como leitor
experiente, problematiza o que foi lido, retoma o texto quando é necessário;
solicita aos alunos que leiam novamente para localizar um fragmento
interessante, para que pensem nas motivações de um personagem e possibilita que
surjam vários pontos de vista sobre o lido.
É indispensável planejar
estas situações para que se produzam intercâmbios valiosos. Além disso, é
possível registrar o ocorrido e guardar a informação para retomá-la e tornar a
ler posteriormente: cartazes com listas dos contos já lidos, de gêneros
literários, das curiosidades e das fontes de onde se retiraram as informações;
um painel onde se afixam as notícias lidas ou os personagens de uma novela;
anotações com as características de como escreve um autor, etc.
Outras vezes é interessante
apresentar situações que requeiram ler
para escrever. Nestes casos, não
será suficiente uma só leitura, mas é imprescindível que haja uma exaustiva
leitura de modelos do texto que se vai escrever, com o objetivo de que os
alunos construam consciência sobre as características que têm esses textos, que
lhes permitam diferenciá-los de outros já conhecidos. O professor compartilhará
os propósitos da tarefa. Algumas das atividades poderão ser: escrever um conto à moda de certo autor, escrever o
prólogo de uma antologia ou coletânea de poesias, escrever contos do gênero
lido, escrever outra aventura para o personagem da história que se está lendo,
recomendar contos lidos etc.