terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pessoal, este texto é super interessante para novas práticas de leitura.



Como fazer para que os alunos sejam bons leitores?
                        Cinthia Kuperman

                  Que fazer quando as crianças já leem, mas suas leituras são pouco fluídas?
 Muitos professores se perguntam o que fazer quando a leitura dos seus alunos é pouco fluente. Em princípio, temos que recordar que ler com fluência não necessariamente equivale a compreender. Se os alunos não atribuem sentido ao que leem, é porque têm permanecido presos à decifração; portanto não estão lendo. É necessário agilizar a leitura para conseguir que se sintam mais seguros e tenham mais ferramentas disponíveis para enfrentarem um texto. Saber que funções cumprem os negritos que destacam determinadas frases ou palavras, que pistas oferecem os títulos, o que significa um asterisco junto a uma palavra, como buscar informação específica em uma enciclopédia de quatrocentas páginas, são competências necessárias para ser um leitor ágil.

Como se assinalou em outros trabalhos neste livro, não há uma única modalidade de leitura, mas múltiplas, de acordo com a finalidade que orienta essa atividade. Ler ou não com fluência também depende da intenção com que se aborda o texto. Na classe, com certos materiais, é imprescindível compartilhar os propósitos da leitura para que os alunos consigam dar sentido próprio a essa tarefa. Que saibam para que leem, o que se espera, que estratégias podem funcionar como referência para outras ocasiões, é essencial para ajudar-se a ler melhor. Também é útil saber ler em voz alta para um auditório, seja um conto, uma poesia, ou um fragmento de informação localizada e que essa leitura permita comunicar um significado. Preparar-se para ler diante de um auditório requer ensaiar previamente a leitura e é provável que isso ajude a ler de forma mais fluída, ao menos, o texto em questão.

Apresentamos aqui alguns exemplos enquadrados em projetos ou atividades habituais, com propósitos claros, definidos e compartilhados com a classe. Neles os alunos ensaiam para ler frente a um auditório.

Ler um conto favorito para outros ou o espaço do contista

Nesta atividade habitual, os alunos têm a responsabilidade de escolher um conto e lê-lo aos seus companheiros. A escolha é compartilhada com o professor, que se assegura de que os contos selecionados tenham qualidade literária. Para organizar a tarefa, se elabora uma lista com os nomes dos alunos e das leituras escolhidas, que serão lidas uma vez por semana.  No dia estabelecido, o contista será encarregado de ler seu conto e decidir como e quando mostrar as imagens, oferecer dados do autor e do paratexto (como são a capa e a contracapa), e organizar as rodas de conversa, a vez em que cada um fala, no intercâmbio posterior.

A classe e o professor ouvem e ao final se organizam perguntas e comentários sobre o que suscitou o texto ou interrogações acerca de como procedeu o leitor para preparar-se. Esta situação é interessante, uma vez que impulsiona os alunos a praticarem a leitura de um texto conhecido para expô-lo diante de um auditório.

Produção de fitas cassetes ou CDs de poesias para acompanhar uma coletânea impressa
Este projeto propõe coletar poesias variadas e numerosas, que depois são gravadas e reproduzidas para um amplo auditório constituído por familiares, outros alunos, professores, etc., ou para organizar uma biblioteca falante.

O propósito didático é pôr à disposição dos alunos diversas e variadas poesias de autores consagrados e promover seu conhecimento do gênero.

A seguir alguns dos momentos da proposta:

·         O professor lê poesias aos alunos de maneira sistemática.

·         Os alunos ouvem outras pessoas – da escola e outras, por meio de gravações – ler poesias.

·         Seguem o texto de alguma poesia, enquanto ouvem uma gravação da leitura que o próprio autor fez do poema.

·         Leem sobre a vida e a obra dos autores.

·         Conversam sobre como os autores abordam algum tema, paisagem ou sentimento particular.

·         Descobrem a beleza de seus peculiares modos de apresentar a realidade.

A turma se enriquece graças às leituras e aos intercâmbios sobre uma variedade de poesias. Os alunos discutem acerca de suas percepções quando outros leem: a entonação de uma frase determinada, o ritmo da linguagem poética, etc. Analisam-se os modos de ler contos ou notícias e a forma como se leem as poesias. Em todos os momentos há poesias à disposição dos alunos.

Antes de gravar suas poesias, os pequenos terão lido e ouvido ler e têm à sua disposição diversos poemas; o professor os incentiva a reler e a questionar-se sobre as suas preferências. Isto permitirá combinar critérios de seleção para a escolha dos textos que farão parte da coletânea. Uma vez selecionada a poesia, começarão os ensaios.

Cada aluno ensaia para ler da melhor maneira possível. Como se requer tempo, os alunos praticam tanto na escola como em suas casas; ouvem, analisam como leem, redefinem critérios, emitem opiniões e voltam a ensaiar até concordarem que se entendem o que leem; então estão preparados para gravar os poemas.

Enquanto desenvolvem estes procedimentos, o professor se aproxima dos grupos e observa suas tarefas, compartilha com todos os processos que deram resultado ou então as dificuldades suscitadas, incentivando a reflexão sobre as maneiras de ler as poesias. Às vezes lê a meia voz algum verso para ajudar os alunos a ler e mostra com sua leitura como poderia ser o ritmo desse verso; inicia com os alunos um diálogo sobre o tema do poema e solicita que explicitem como conseguiram melhorar a leitura. Em seguida, escreve em um cartaz à vista de todos, as sugestões decididas para serem consultadas em outra oportunidade.

O seguinte registro é um exemplo de uma classe de 2º ano que está preparando um cd.

                             (A professora observa Joaquim muito concentrado

                             com sua poesia, se aproxima e lhe pergunta):

                             Professora: Como você está lendo?

Joaquim: procuro lembrar de memória, porque isso me ajuda a ler melhor; leio muitas vezes a mesma linha e, quando estou seguro, passo  a outra.

Outra aluna: Na minha casa gravei enquanto lia, escutei para saber se podia melhorar.

Joaquim encontrou uma estratégia que o ajuda a sentir-se seguro. Ler o mesmo verso uma e outra vez lhe permite apropriar-se do ritmo das palavras e adquirir mais segurança. Os alunos buscam maneiras de obter parâmetros próprios para regular sua leitura, têm claro o propósito: ler o melhor possível para gravar o cd.

Após gravar os poemas, a professora lhes propõe que elaborem um cartaz que explique como fizeram, para compartilhar com outros alunos suas estratégias, e usá-las eles mesmos em outras ocasiões. A professora anota as seguintes conclusões:

·         “Ler a outros enquanto se pratica a leitura melhor,

porque os que ouvem dizem se se entende ou não

e o que há para melhorar.”

·         “Pode-se ler muitas vezes o mesmo verso, assim se lembra bem e depois se lê melhor.”

·         “Se você se perde, pode marcar com o dedo ou uma régua onde está lendo”.

·         “Pode-se ler por partes. Quando estiver seguro com cada parte, lê o texto todo”.

·         “Temos de praticar muito”.

·         “Escolher uma poesia e lê-la muitas vezes”

        Ler contos de autor para alunos menores

Esta proposta se inclui num projeto mais amplo, que é seguir a obra de um autor. À medida que os alunos leem e comentam diversos títulos de um autor, e também os dados de sua vida e sua obra, sabem que deverão escolher os mais adequados para ler aos menores. Selecionar os textos que lerão é uma tarefa complexa que convida a reler; talvez não seja necessário ler o conto completo, mas folhear o livro para recordar essa história e, assim, poder decidir se é adequada ou não para compartilhar. Enquanto se discutem os critérios de seleção, os alunos se organizam para ouvir a leitura e participam como observadores.

No 4º ano, o professor registra o que fazem os alunos enquanto leem ou veem os outros ler.

Penduram dentro do quadro o cartaz que diz: “Estamos lendo”.

·         Fazem uma roda sentados no chão.

·         O leitor pergunta aos alunos se conhecem o livro enquanto o mostra.

·         Se leem um romance recorda onde haviam parado a leitura no último encontro e mostra onde deixou o marcador.

·         Alguns leitores mostram as ilustrações enquanto leem o conto.

·         Outros leitores fazem gestos enquanto leem.

·         O leitor pede que ouçam e que não se preocupem se há alguma palavra cujo significado não compreendem.

·         Diz quem é o autor.

·         Deixa o livro lido na biblioteca de sala para o caso de alguém desejar consultá-lo.



Tomar consciência sobre como se lê para outros ajudará os alunos a ter presente a hora de realizar leituras por si mesmos. Eles repartem os contos e compartilham a leitura, durante várias sessões, para ensaiar. Um aluno propõe “ler pausado, nem muito rápido nem muito lento”. Os alunos escolhidos leem aos colegas e, ao regressarem à sala de aula, compartilham suas experiências e ajustam aquelas estratégias que possam ser usadas junto aos próximos leitores. ‘Não parar de ler, somente ao mostrar as ilustrações; pode-se deixar que os alunos falem; mostrar a capa e a contracapa do livro; ler dados da capa e da contracapa antes de começar o conto” são alguns dos comentários que fazem os alunos depois que leem para as crianças de cinco anos.

Teatro lido

Durante a leitura de obras teatrais, ou como etapa final de um projeto específico como o de adaptar contos a obras teatrais, os alunos podem se preparar para fazer teatro lido. Esta modalidade é diferente das anteriores, já que nem tudo o que está escrito se lê em voz alta. Uma questão complexa e, por sua vez, interessante é perguntar-se o que se deve ler em voz alta e o que faz parte da linguagem teatral, porém não se verbaliza.

Oferecer oportunidades para que leiam e reflitam sobre esta prática ajudará os alunos a agilizar sua leitura. Se os alunos têm a oportunidade de ter acesso a um trabalho sustentado, de leituras e releituras; se podem resolver desafios e se os orientamos para que construam os conhecimentos necessários – por exemplo, a estabelecer relações entre situações e saberes para consolidar o aprendido e reutilizá-lo -, os ajudamos a participar ativamente da cultura escrita.

Ler em voz alta deve ser uma oportunidade a mais para ler, não uma situação escolar privilegiada ou de avaliação.  Para que isto aconteça, as situações de leitura em voz alta devem ser práticas carregadas de sentido, com propósitos claros e destinatários reais. A escola tem a função específica de conseguir que os alunos tenham consciência do que sabem. Neste sentido, a leitura, como outros conhecimentos, não é espontânea, mas ao contrário, deve facilitar o encontro dos alunos com a língua escrita e promover o processo de sua aprendizagem.

Como atuar com os alunos que têm medo de errar?

Não há uma fórmula precisa para saber o que fazer com os alunos que se mostram temerosos diante da leitura. No entanto, há algumas intervenções didáticas que podem ajudá-los a ter confiança em si mesmos e a considerar o erro como parte do processo de aprendizagem.

Saber que o conhecimento é provisório e que tudo o que se aprende é objeto de sucessivas reorganizações permite substituir esse temor e ganhar confiança na sua capacidade. O professor ajuda os alunos a se darem conta do que podem e do que sabem. Por isso é importante planejar situações didáticas que organizem o ensino na classe, de modo que os alunos reflitam a partir dos conhecimentos – em alguns casos errôneos ou provisórios – que possuem e possam fazer o que lhes propomos: ler um novo texto, um texto mais extenso, buscar informação precisa, etc. A única maneira de promover a aprendizagem é que os alunos resolvam situações problemáticas e adquiram estratégias que lhes permitam resolvê-las cada vez com maiores recursos.

Será indispensável que possam ler com frequência, já que, se não o fazem, não poderão ganhar confiança como leitores. Como sustenta Delia Lerner, é fundamental



Capacitar os alunos para decidir quando sua interpretação é correta e quando não é, para estarem atentos à coerência do sentido que vão construindo e detectar inconsistências, para interrogar o texto buscando pistas que endossem tal ou qual interpretação. [...] Trata-se, então, de oferecer aos alunos oportunidades de construir estratégias de autocontrole da leitura.

As propostas de leitura apresentarão aos alunos o desafio de validarem por si mesmos suas interpretações. Para que isso ocorra, o professor adia a indicação da resposta correta, permite a reflexão e a discussão coletiva, e estimula o surgimento de várias interpretações de um mesmo texto.

Outra forma de gerar confiança é atendendo às necessidades particulares dos alunos. O professor poderá ajudar aqueles alunos que necessitam de um comentário ou uma observação personalizada sobre o que fazem quando leem; por exemplo, sugerindo-lhes que podem recorrer a uma régua para seguir a leitura e que não convém deterem-se nas palavras que não compreendem, mas tratar de inferir a que se referem pelo contexto. Poderá aproximar-se de um pequeno grupo que tenta avançar na leitura de um texto – por exemplo, em uma roda de leitura – para discutir com eles o que não entendem ou ler para eles em voz alta um fragmento que lhes pareça difícil. Também pode selecionar alguns aspectos do que tenha ocorrido em um grupo para compartilhar coletivamente ou oferecer a informação necessária para que todos avancem na compreensão do texto.

A confiança se adquire com o tempo e com a possibilidade de lembrar o que foi objeto de prática ou reflexão. Convém que os alunos compartilhem os conhecimentos alcançados – por exemplo: “Estamos estudando sobre a rã, este é um texto extraído de outra enciclopédia. Como podemos saber onde olhar para saber qual é a fonte?” – e pensar se uma estratégia de leitura que serviu em outra situação poderia ajudar nesse caso.

Em um ambiente onde “vale errar” e é possível apagar, riscar, ler, reler, praticar, contar com mais de uma resposta correta, validar e justificar as interpretações, é possível que os alunos desenvolvam confiança em seu potencial como leitores.

Como formar bons leitores?

Ajudar os alunos a ser bons leitores é uma tarefa que abrange toda a escolaridade. Ler é uma atividade complexa que requer uma prática sistemática. Os leitores se formam mediante múltiplas leituras, tanto as realizadas por meio da voz de outros – professores, pais, um aluno mais experiente – como por si mesmos.

A escola como instituição deve oferecer oportunidades de fazer uso da língua escrita. Para isso, deve fazer o esforço e ter o compromisso de pôr livros à disposição dos alunos e gerar intercâmbios a partir desses contatos. Será necessário, então, prever situações de leitura que permitam a todos ter acesso direto às leituras: para alguns, será talvez um primeiro contato direto com os livros e, para outros, uma oportunidade de ampliar seu marco referencial de textos. Isto implica enfrentar o desafio de construir uma nova versão da leitura, que se ajuste muito mais à prática social e permita que os alunos se apropriem efetivamente dela.

Várias questões podem ser levadas em conta para ajudar os alunos a ser bons leitores. Em continuação analisam-se algumas propostas didáticas que, na prática, se relacionam, pois uma necessita da outra.

Ler diversos textos

Será necessário propor diversos tipos de textos: um repertório amplo, de circulação social real (receitas, cartas, contos, notícias, obras de teatro, páginas de enciclopédia, etc.) Sem textos verdadeiros na sala de aula, é impossível ajudar os alunos a melhorar seu processo leitor.

Na escola há uma tradição segundo a qual se fracionam e graduam os textos ao ponto de deixar de serem textos.A prática escolar se distancia e fica dissociada de outras práticas sociais; os textos que se oferecem se transformam em absurdos, carentes de sentido e de verdadeiros propósitos comunicativos. Ter o texto completo à disposição oferece mais pistas ao leitor que ter somente uma parte descontextualizada. Quando se lê unicamente um fragmento ou uma notícia isolada, se xeroca uma página de um livro de estudo, etc., é fundamental mencionar a fonte, isto é, indicar de onde foi extraído o texto, mostrar o livro completo, o jornal ou o suporte de onde fazia parte. Isto permitirá contextualizar sua procedência.

Ler segundo um propósito

Quando os alunos e os adultos leem com um propósito claro, estão em condições de selecionar o texto e ajustar as estratégias mais adequadas para compreendê-lo.Esse propósito pode ser desfrutar, obter informação – geral ou precisa -, seguir instruções, comunicar algo a outros, etc. Não se lê porque sim; sempre há uma finalidade. É necessário prever diversos propósitos de leitura tanto durante cada ano escolar como durante toda s escolaridade.

O professor lê aos alunos

Ao ler um texto aos alunos, o professor modeliza comportamentos de leitor; comenta qual editora publicou o material; quem é o ilustrador; lê os dados da contracapa; relaciona o texto com outro da mesma coleção, com outros títulos do autor, ou com textos similares; lê o índice; mostra o marcador de página que usará e antecipa quanto vai durar a leitura; faz marcas com lápis no texto e as compartilha com os alunos. O professor comunica qual é o propósito: lê para que os alunos conheçam uma história; lê um bilhete que colarão no caderno de comunicados; lê para buscar informação específica e solicita que o avisem quando perceberem que dada informação é relevante; relê; registra uma página para depois encontrá-la facilmente e escreve um pequeno texto que funcione como apoio à memória. Gera um ambiente que propicie e estimule a leitura. Enfim, um professor que atua deste modo, ensina a ler.

Os alunos leem por si mesmos

O professor oferece livros aos alunos e os prepara como leitores na aula. Dá-lhes tempo para que olhem os textos, para que selecionem entre vários qual servirá para buscar informação acerca do que estão estudando. Põe à sua disposição marcadores de páginas para que marquem aquilo que depois desejarão voltar a ler; convida a ler um título; oferece várias biografias para que os alunos encontrem as que são de autores que estão lendo e para que localizem novas informações relacionadas com o que selecionaram até o momento. Pergunta como fizeram para encontrá-las, em que se detiveram, o que levaram em conta. O professor não impõe a sua leitura, trata de compreender o que os alunos leram, qual o sentido que construíram. Deste modo, também ensina a ler.

Em cada aula há alunos com diferentes experiências em situações de leitura. Isto, mais que um problema, é um interessante ponto de partida para começar a trabalhar. Diversas intervenções ajudarão para que todos leiam um texto. Estas variarão de acordo com o texto, o propósito, a informação que oferece o professor e os conhecimentos que tenham os alunos. Por exemplo:

·         Dizer que o texto informa sobre a rã e solicitar aos alunos que localizem os dados novos que oferece sobre o tema;

·         Solicitar que localizem em um novo texto informações que já conhecem sobre o tema que estão estudando.

Ler bem não é, necessariamente, fazê-lo bem em voz alta. Tradicionalmente, na escola, ler bem era sinônimo de dizer bem, mas agora se sabe que entender não é o mesmo que oralizar um texto escrito.

Em síntese, aprender a ler não é uma tarefa que se consegue de um dia para o outro. Para transformar os alunos em bons leitores, temos que oferecer-lhes um amplo repertório de leituras, para que possam estabelecer relações e antecipar por meio dos dados do paratexto qual informação se pode encontrar no livro; solicitar que busquem informação e que saibam onde encontrá-la, ou escolher, entre vários textos disponíveis, algum; ler e reler para esclarecer dificuldades, marcar o texto, avançar e voltar sobre o que foi lido para atentar para as ideias. Enfim, formar alunos como leitores plenos é ajudá-los a ler melhor.

  Todas as situações de leitura devem levar a uma proposta de escrita?

É frequente que, depois de ler um conto, se proponham aos alunos responder a um questionário ou desenhar o personagem ou a parte do conto que mais se gostou; ou, depois de ler uma notícia, escrever outra, ou ler uma receita antes de inventar uma nova.

Deste modo, a atividade de leitura continua de alguma forma em uma situação de escrita. A necessidade de avaliar desempenha um papel importante nestas decisões didáticas, como se o professor solicitasse as produções escritas para saber se o que foi lido foi compreendido.

Contudo, estas atividades não ajudam a formar verdadeiros leitores autônomos e críticos. Tampouco a formar escritores. Nem todas as situações de leitura devem derivar em propostas de escrita. Tal como acontece na prática social, às vezes, se lê e somente se marca um fragmento para recuperar essa informação depois; outras vezes se tomam notas; porém, com frequência, somente se lê pelo prazer e a satisfação de ler.

É necessário que, nas aulas, e durante toda a escolaridade, existam situações cuja intenção seja ler por ler junto a outras que permitam ler para escrever.

São várias as situações habituais ou independentes de leitura que se podem planejar com a intenção de ler por ler. A proposta é organizar uma sessão quinzenal ou semanal para que o professor leia para os alunos e estes para a classe, ou momentos nos quais cada um leia de forma independente.

Em todos os casos, o professor explicita o propósito da leitura. Estas situações implicam na leitura e no intercâmbio entre os leitores. O professor é o mediador entre o texto e os alunos: apresenta os livros selecionados previamente; lê em voz alta; relê uma passagem interessante, engraçada ou que mostra semelhanças com outras obras; assinala as marcas de estilo que caracterizam a forma de escrever do autor (reiterações, escolhas de palavras, tipos de frases, etc.). Como leitor experiente, problematiza o que foi lido, retoma o texto quando é necessário; solicita aos alunos que leiam novamente para localizar um fragmento interessante, para que pensem nas motivações de um personagem e possibilita que surjam vários pontos de vista sobre o lido.

É indispensável planejar estas situações para que se produzam intercâmbios valiosos. Além disso, é possível registrar o ocorrido e guardar a informação para retomá-la e tornar a ler posteriormente: cartazes com listas dos contos já lidos, de gêneros literários, das curiosidades e das fontes de onde se retiraram as informações; um painel onde se afixam as notícias lidas ou os personagens de uma novela; anotações com as características de como escreve um autor, etc.

Outras vezes é interessante apresentar situações que requeiram ler para escrever.  Nestes casos, não será suficiente uma só leitura, mas é imprescindível que haja uma exaustiva leitura de modelos do texto que se vai escrever, com o objetivo de que os alunos construam consciência sobre as características que têm esses textos, que lhes permitam diferenciá-los de outros já conhecidos. O professor compartilhará os propósitos da tarefa. Algumas das atividades poderão ser: escrever um conto à moda de certo autor, escrever o prólogo de uma antologia ou coletânea de poesias, escrever contos do gênero lido, escrever outra aventura para o personagem da história que se está lendo, recomendar contos lidos etc.